Mas,
se deixou de lado os lugares comuns não “meteu na gaveta” os preconceitos
contra a Escola Pública sendo o “arranque” do atual ano letivo marcado por um
conjunto muito significativo de mudanças que colocam em causa a Escola Pública
enquanto tal.
A
título de exemplo, o nosso município – Vila Nova de Gaia – foi exemplar na
forma como tem gerido a Educação – o processo de criação dos Mega agrupamentos,
além do conteúdo, absurdo, das propostas de agrupamento implementadas, foi
feito nas costas dos encarregados de educação, dos pais, dos alunos, dos
professores e muitas vezes, até mesmo, das direções das Escolas. Assim, temos
hoje em Gaia cinco Agrupamentos enormes, com projetos educativos destruídos,
com alunos e professores, quais bolas de ténis, de um estabelecimento de ensino
para outro, com critérios discutíveis para a sua distribuição pelas diferentes
escolas. Os Mega agrupamentos podem ser um bom negócio a curto prazo, mas vão-nos
sair muito caros a médio e longo prazo, tal a quantidade de problemas que vão
gerar.
Não
deixa de ser também exemplar a forma como o Ministro da educação mexe no
currículo escolar diminuindo o tempo que os alunos vão estar na escola. Os
responsáveis governativos anunciam uma coisa ao país, mas a realidade é bem
diferente do que apregoam – os alunos vão estar, já a partir deste ano letivo,
menos horas na escola e isso é responsabilidade deste governo. Claro que a
redução do currículo vai levar muitos milhares de professores para o
desemprego, mas vai também diminuir a qualidade da escola. É muito estranho que
o país se dê ao luxo de mandar para casa milhares de professores, quando os
alunos precisam deles, nomeadamente aqueles que têm mais dificuldades de
aprendizagem, que ainda por cima, vão ver reduzidas drasticamente as horas de
apoio. Além da diminuição das horas de apoio, o governo, reduziu a oferta
educativa na área das expressões, retirando ainda importância à Educação Física
e claramente apontando um caminho de “outros tempos”: a escola do saber ler,
escrever e contar.
Também
de “outros tempos”, que deixaram muito poucas saudades, são a aposta no ensino
profissional, que segundo a comunicação social vai iniciar-se logo à saída do
1ºciclo – quase que me apetece perguntar: conhece alguma criança com 10 anos
que seja capaz de decidir o seu futuro?
E,
Caro Leitor, não lhe parece “estranho” que esta via “de segunda oportunidade”,
seja apenas para aqueles alunos que chumbaram 3 anos interpolados ou 2 anos
consecutivos, podendo frequentar cursos de marcenaria, confeitaria e pescas,
esquecendo, já agora, uma riqueza endógena do país, a agricultura, seja só para
os alunos com más notas e que ainda por cima, se ofereça dinheiro para que
frequentem esses cursos?
Para
ajudar na sua reflexão, gostava que pensasse em apenas dois elementos que a
Investigação mostra: nestas idades, os filhos das classes mais desfavorecidas
têm piores desempenhos e são quase sempre os rapazes que têm mais problemas no
que ao sucesso diz respeito. Que move o governo para passarmos a ter uma escola
a dois tempos?
Ironicamente
é num momento de recessão, de grandes dificuldades para as famílias que o
governo diminui a capacidade de resposta da Escola Pública, tornando ainda mais
complicada a saída da crise. A Escola Pública é uma conquista da República e,
em especial, da Democracia que não pode ser maltratada e reduzida a nada por um
qualquer preconceito ideológico ou por um qualquer pretexto económico. Fechar a
Escola Pública seria fechar o futuro do país.
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