sábado, 17 de julho de 2010

Causas da erosão, da zona costeira, da Vila da Madalena

Atendendo, a que estamos em plena época balnear, permita-me que partilhe Consigo, a preocupação que tenho em relação às causas da erosão da orla marítima da Vila da Madalena. Sabendo que os principais factores indutores responsáveis pela erosão costeira e pelo consequente recuo da linha de costa, são, respectivamente:

a) - Elevação do nível do mar – A elevação do nível médio global do mar, relaciona-se com a variabilidade climatológica natural da Terra e com as perturbações induzidas pelas actividades humanas. As consequências, que se fazem sentir no litoral, devido à subida gradual do nível relativo do mar, dependem das características tipológicas do troço costeiro considerado, nomeadamente da existência de afloramentos de rochas bem consolidadas, das características das acumulações sedimentares, da existência de arribas, do pendor médio da praia, da presença de corpos dunares, da frequência dos temporais, entre outros. Além destas consequências directas, a elevação do nível do mar também tem, consequências indirectas no litoral. Assim, os estuários, convertem-se em locais de recepção e deposição de sedimentos, em vez de fornecedores, como se verifica em períodos de abaixamento do nível do mar;

b) - Diminuição da quantidade de sedimentos fornecidos ao litoral – À medida que o Homem, avança no desenvolvimento de novas tecnologias, para intervir no ambiente; vai diminuindo, a quantidade de areias que, por via fluvial, alimentam a deriva litoral. São muitas as actividades humanas localizadas quer no interior, quer nas zonas ribeirinhas, que contribuem para esta diminuição no abastecimento de sedimentos ao litoral. Sendo de salientar: as florestações; os aproveitamentos hidroeléctricos; as obras de regularização dos cursos de água; as explorações de inertes nos rios; nas zonas estuarinas; nos campos dunares e nas praias; as dragagens; as obras portuárias e muitas das obras de engenharia costeira;

b.1) Barragens – Um dos elementos inibitórios, do transporte fluvial de areias, é constituído pelos aproveitamentos hidroeléctricos e hidroagrícolas, isto é, pelas barragens. Verifica-se que estas constituem "filtros" de elevada eficácia que inibem, quase por completo, a passagem de areias para o troço fluvial a jusante. Existe uma correlação positiva entre a construção de barragens, e a falta de alimentação em areias ao litoral, com a consequente erosão costeira e recuo da linha de costa.

b.2) Dragagens – O assoreamento das zonas estuarinas constitui fenómeno natural, embora amplificado por inúmeras actividades antrópicas. Os desenvolvimentos portuários, bem como o progressivo aumento do calado dos navios, vieram aumentar as exigências no que se refere à estabilidade dos canais de navegação e à sua profundidade. Por consequência, as obras de dragagem para abertura, manutenção ou aprofundamento desses canais têm vindo, cada vez mais, a atingir maior amplitude. A título de exemplo, só na parte jusante do rio Douro, o volume de sedimentos dragados entre 1982 e 1986 foi de 3x106m3, isto é, um quantitativo pouco inferior ao estimado para o volume de sedimentos interessados na deriva litoral, o qual se estima ser da ordem de 1x106m3/ano. As dragagens nos troços vestibulares dos rios, são parcialmente responsáveis pelos défices de abastecimento sedimentar ao litoral e, consequentemente, pelo recuo da linha de costa. As operações de dragagem, são responsáveis não só pela inibição do abastecimento sedimentar litoral, como também retiram do trânsito litoral parte das areias que aí circulam.

b.3) Extracção de Inertes – A extracção de inertes efectuadas nas zonas fluviais, estuarinas e costeiras apresentam dados alarmantes: na costa a Norte de Aveiro (S. Jacinto) extraíram-se, só em 1980, 4x106m3 de areias, havendo razões para pensar que o somatório das extracções legais e ilegais tenha atingido volumes próximos de 10x106m3/ano, nos últimos anos. A extracção de areias e cascalhos, só no troço inferior do rio Douro, incluindo o estuário, atingia, no início desta década, valores da ordem de 1,5x106m3/ ano. O rio Douro que, em regime natural, debitaria cerca de 1,8x106m3/ano de carga sólida transportada junto ao fundo, passou a debitar cerca de 0,25x106m3/ano, após a conclusão das obras.

c) - Degradação antropogénica das estruturas naturais – A degradação humana das formas costeiras naturais, afecta o litoral já debilitado pela elevação do nível do mar e pela diminuição do abastecimento de sedimentos. Entre as muitas acções degradativas das estruturas naturais podem referir-se: o pisoteio das dunas (que, destruindo o coberto vegetal, propicia o aparecimento de cortes eólicos e facilita os galgamentos oceânicos); o aumento da escorrência devido às regas, (a qual provoca, geralmente, erosão muito forte e intensifica os fenómenos de abarrancamento); as estradas improvisadas e a construção de edifícios no topo das arribas, (o que aumenta as cargas exercidas e induz vibrações conducentes a quedas de blocos e movimentos de massa); e as explorações de areias (que destroem, por completo, as formas naturais e, frequentemente, deixam zonas deprimidas que são inundadas no decurso de temporais e conduzem à intensificação da erosão, propiciando recuos locais da linha de costa muito elevados provocados, por vezes, por uma única tempestade). Estas e outras acções degradativas, subtraem ao litoral uma capacidade intrínseca de defesa que lhe era conferida por tais formas.

d) - Obras Pesadas de Engenharia Costeira – As obras de engenharia costeira têm, consequências nefastas para a zona onde são implantadas. Acresce, que estas, têm, como objectivo tornar estático (ou, pelo menos, o menos dinâmico possível), partes importantes do litoral.

d.1) Molhes e Quebra-Mares – Há que reconhecer que os molhes e quebra-mares dos portos, têm, fundamentalmente, duas funções: modificar as condições oceanográficas locais (por forma a tornar mais segura a entrada do porto e a própria zona portuária); e modificar as condições da dinâmica sedimentar (por forma a fixar canais de navegação e minimizar o assoreamento). Como é evidente, tais estruturas perturbam profundamente a dinâmica intrínseca do litoral, entre outras razões porque: a) modificam, as condições locais da deriva litoral, induzindo fenómenos de difracção, refracção e reflexão da agitação marítima totalmente estranhos ao funcionamento natural do sistema; b) desviam, frequentemente, para o largo as correntes de deriva litoral, o que leva à deposição de areias a profundidades em que dificilmente são remobilizadas, traduzindo-se numa diminuição da deriva litoral nesse troço costeiro; c) interrompem, quase por completo, a deriva litoral, o que provoca consequências nefastas para o litoral a jusante dos molhes.

d.2) Obras pesadas de protecção costeira – As obras pesadas de engenharia costeira, são implantadas para obviar ao recuo da linha de costa e funcionam, como indutores suplementares de intensa erosão costeira. Estas, são responsáveis pelo recuo acelerado da linha de costa e são de três tipos: obras transversais (como os esporões), obras longilitorais aderentes (como os paredões) e obras destacadas (como alguns quebra-mares).


Face ao exposto, constata-se que, a erosão costeira no litoral português tem causas múltiplas, com efeitos bem visíveis, por exemplo, na orla marítima da Vila da Madalena, com uma nítida progressão do mar, desde que se construiu a Norte, o exutor submarino. A intensa pressão urbanística (desordenada) no litoral, tem vindo a ser efectuada de forma que não viabiliza um desenvolvimento sustentável da faixa costeira. Pelo que se torna necessário proceder, a um reordenamento da faixa litoral, de forma a proporcionar um desenvolvimento racional e sustentável.

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